Quer empreender? Tire o Jonas do seu barco

Engana-se quem acha que a Bíblia Sagrada só trata de religiões e assuntos espirituais. Ela contém conselhos práticos para todas as áreas da vida e não seria diferente quando o assunto é empreendedorismo. Uma das passagens que é exemplo de desafio e chamado à ação está em Eclesiastes 11:4:

” Quem observa o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará.”

Esta passagem retrata fielmente o dilema de muitos sonhadores, que, sofrem porque reconhecem que tem ideia e até disposição para fazer a diferença, mas lhes falta a coragem para lidar com as intempéries, condição sine qua non na vida de quem decide ousar.

Na Bíblia Sagrada, consta a história de um homem chamado Jonas. Ele é comissionado pelo Deus de Israel para ir a Nínive, capital da Assíria. A sua missão era admoestar os assírios que devido a sua crueldade e ao muito derramamento de sangue, iriam sofrer a ira Divina caso não se arrependessem dentro de quarenta dias. Os assírios eram famosos, por exemplo, por decapitar os povos vencidos, fazendo pirâmides com seus crânios. Crucificavam ou empalavam os prisioneiros, arrancavam seus olhos e os esfolavam vivos.

Entretanto, em um ato de desobediência Jonas decidiu ir para Jope, que distava aproximadamente 800 km de Nínive. Jope (onde Jonas embarcou) até Társis (sul da Espanha) são aproximadamente 3.500 km, o ponto mais distante possível da direção apontada por Deus.

Por conta da desobediência, Deus enviu uma grande tempestade que obrigou os tripulantes a jogarem ao mar a maior parte da carga do navio, mas de nada adiantou. Começaram a procurar um culpado e acharam Jonas dormindo no porão do navio. Ao encontrá-lo, disseram-lhe:

” Que te faremos nós, para que o mar se nos acalme? Porque o mar ia se tornando cada vez mais tempestuoso. E ele lhes disse: Levantai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se vos aquietará; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade.” Jonas 1:11-12

Na jornada do empreendedorismo encontramos muitos “Jonas”, aqueles obstáculos que nem sempre estão visíveis, na sua maioria escondidos nos porões da nossa mente e que nos impedem de chegar aos nossos objetivos. 

Abaixo, relaciono alguns destes “Jonas”:

Medo: sentimento natural e extremamente necessário em qualquer área da vida. No empreendedorimo, é o “juíz” que constantamente nos alerta para que possamos manter a coerência entre a osuadia e a capacidade. Entretanto, quando em excesso, limita o empreendedor que deixa de entregar muito mais do que seria capaz de fazer, simplesmente pelo receio de perder o que já tem. Alguém se lembra da parábola dos 10 talentos, contada por Jesus? “Um certo senhor chamou os seus servos e a um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual segundo a sua capacidade; e seguiu viagem.

O que recebera cinco talentos, foi imediatamente negociar com eles e ganhou outros cinco; do mesmo modo o que recebera dois, ganhou outros dois. Mas o que tinha recebido um só, foi-se e fez uma cova no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor.” Quando aquele que recebeu um talento foi questionado do motivo de tê-lo enterrado, respondeu:

“Senhor, eu soube que és um homem severo, ceifas onde não semeaste e recolhes onde não joeiraste; e, atemorizado, fui esconder o teu talento na terra; aqui tens o que é teu”.

Para saber a reação do senhor, leia o texto completo em Mateus 25:14-30. Mas adianto que não foi nada agradável.

Dúvida: infelizmente em nosso país não se estimula a cultura empreendedora. Ainda reina a máxima, condenada por Robert Kiyosaki, autor de “Pai Rico, Pai Pobre”, que consiste em: 

“Estude, forme-se e consiga um bom emprego”, “Você precisa passar em um concurso público ou entrar em uma multinacional”. 

Segundo o autor isso acontece pois o sistema de ensino atual está obsoleto. Isso inclui escola, como entidade, e também os conselhos que recebemos ou damos para as outras pessoas. Isso acontece também porque nossos pais (e nós também, atualmente) são avessos à riscos.

Como eles não aprenderam a investir eles também não nos ensinaram. Afinal, eles cresceram ouvindo os pais deles dizerem as mesmas coisas. Nós, assim como os nossos pais, crescemos analfabetos financeiros. O empreendedor e empresário foi Flávio Agusto, fundador da WiseUp, certa vez, disse em uma de suas palestras o que ele faria se tivesse 18 anos. Entre outras coisas, ele citou que jamais gastaria 4 anos em uma universidade. Disse também que jamais seria empregado. Creio que em breve o vídeo será divulgado na integra no portal, quando você poderá saber mais detalhes destas e outras recomendações.

Orgulho: um dos principais obstáculos ao empreendedorismo. Assim como “Uma andorinha só não faz verão”, o empreendedor por si só não tem todas as qualificações necessárias para concluir a sua obra. Pense nas grandes invenções da atualidade e perceberá que raramente foram frutos do trabalho de uma pessoa só: Microsoft (Bill Gates e Pau Allen), Apple (Steve Job e Steve Wozniak), Google (Larry Page e Sergey Brin), Facebook (Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin), HP (Bill Hewlett e David Packard), entre tantos outros. Isto nos mostra que a colaboração é essencial ao bom resultado. A humildade para reconhecer que errou o passo também é essencial à perenidade do negócio. Não é fácil, mas extremamente necessária.

Ciúmes: muitos empreendedores sofrem da síndrome do filho mais velho: “E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.” Lucas 15:29-30. O mesmo Jonas que não quis ir à Nínive pregar a salvação para “mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais”, Jonas 4:11, foi o mesmo que desejou morrer por causa de uma aboboreira: “Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado. 

E orou ao Senhor, e disse: Ah! Senhor! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal. Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver.” Jonas 4:1-3. 

Quando decidi empreender, acreditava piamente que teria acesso fácil e rápido a linhas de crédito para dar conta das obrigações nos primeiros meses, sobretudo dos bancos estatais. Ledo engano.

Tinha duas alternativas: ficar chorando e murmurando (outro Jonas) porque os bancos só dão dinheiro para quem é grande, para quem não precisa, que perseguem as MPEs, etc. ou erguer a cabeça e seguir em frente. Afinal:

“Empreendedorismo é viver alguns anos de sua vida como poucos suportariam, para então desfrutar do resto de sua vida como muitos gostariam”. — Warren G. Tracy.

Incredulidade: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.” Hebreus 11:1. Existe alguma definição melhor de um negócio ainda na cabeça do empreendedor, cuja visão nem ele consegue transmitir adequadamente? O “firme fundamento das coisas que se esperam” é a máxima de qualquer sonhador, ainda que não esteja muito claro o caminho a se percorrer rumo aos objetivos. 

Fé (do Latim fides, fidelidade e do Grego πίστη pistia) é a firme opinião de que algo é verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que depositamos nesta ideia ou fonte de transmissão. É também a convicção de algo subjacente a condições visíveis e que garante uma posse futura, sendo a base de esperança para se ter convicção a respeito de realidades não vistas.

Imaturidade: “E fez o Senhor Deus nascer uma aboboreira, e ela subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu enfado; e Jonas se alegrou em extremo por causa da aboboreira. Mas Deus enviou um verme, no dia seguinte ao subir da alva, o qual feriu a aboboreira, e esta se secou. E aconteceu que, aparecendo o sol, Deus mandou um vento calmoso oriental, e o sol feriu a cabeça de Jonas; e ele desmaiou, e desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver.” Jonas 4:6-8. A imaturidade por vezes está intrinsecamente ligada com o ciúmes, não necessariamente nesta ordem.

Quando Jonas percebeu que o povo de Nínive foi salvo porque se arrependeu de todo mal que havia feito, ele ficou nitidamente enciumado e “manhoso” quando Deus permitiu que a aboboreira morresse. A lógica do pensamento de Jonas era:

“Se Deus salvou um povo que era incrédulo, que crucificava ou empalava os prisioneiros, arrancavam seus olhos e os esfolavam vivo, como pode ter deixado morrer esta planta de modo que o Sol me castigasse?” O próprio Deus lhe respondeu.

Murmuração: Por que o cliente não fechou comigo? Por que o fiscal está me sacaneando?  “Oh céus, oh vida, oh azar…”. Por causa da murmuração do povo de Israel, um percurso que era para durar apenas alguns dias durou 40 anos. “E todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: Quem dera tivéssemos morrido na terra do Egito! ou, mesmo neste deserto! E por que o Senhor nos traz a esta terra, para cairmos à espada, e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito?” Números 14:2-3.

“A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto.” Provérbios 18:21.

A energia dispendida na murmuração, será aquela que faltará para enfrentar as tempestades ou até mesmo para tirar o “Jonas” do barco.

“E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria.” Jonas 1:15